Caro professor,
Embora tu não percebas, eu o observo há muito tempo. Não
estou me referindo a amor, ou algo do tipo, prefiro admirar sua existência, e
ressaltar sua grande paciência, frente a ignorância nua e crua.
As vezes não sei o que faço aqui, parece até que algo me
arrasta pra cá, para baixo de sua asa. Asa essa que em minha imaginação é de
uma águia que, de qualquer parte da sala, nos observa e avalia.
Fico curioso para saber qual sua avaliação da minha pessoa.
Não por querer saber o que pensam de mim, e nem aguardando a aprovação de
ninguém, mas pelo senhor ser o meu referencial, minha base de apoio, pois além
de ser órfão de pai, tenho apenas 14 anos.
As semelhanças entre vocês são nítidas relacionadas ao olhar,
ao cuidado e até mesmo aos limites, porém a ignorância de conhecimento tomava
conta daquele homem, que por vezes, cansado da lida, não motivava o
aprendizado, e morreu em um leito de hospital, sem ter a clareza desse significado
na vida. Sua tamanha ignorância, não demonstrava o seu enorme coração que, de
tanto bater para construir o meu futuro e da minha família, um dia parou. Mas
não estou aqui para me fazer de coitado, e muito menos te deixar triste com
meus problemas, pois o senhor já tens os seus, domar pequenas feras humanas,
que não vem prontas para receber informação e conteúdo, pois mesmo que muitos
livros digam, eu não acredito que chegamos pensantes na escola, somos treinados
e preparados para isso.
Incrivelmente professor, poucos percebem a tempo o quão
importante e significativo são seus ensinamentos, e por qual razão
constantemente coloca a prova nossos conhecimentos. Penso que talvez pelo fato
que professores passam as vezes, mais tempo conosco que nossos pais e pessoas
próximas. Eles não imaginam o que estão perdendo.
Eles foram cegados pelo fantasma da preguiça ignorante, que
apesar de um nome inventado pela minha mente fértil, faz com que o portador
pare no tempo e não absorva nada de bom do que foi ensinado.
Meu pai dizia que eu era um jovem observador. Mesmo ainda
criança tirando conclusões de assuntos tão adultos, porém sem perder a
pitadinha de imaginação.
Mas eu te pergunto caro professor, e quando eu crescer? O que
vai acontecer? Tenho medo de não ser mais o mesmo, de não pensar como penso
agora. Já ouvi falar que adultos são vazios e cheios de traumas. Espero ser a
exceção.
Na verdade, quando crescer quero ser como o senhor. Uma águia
em forma de gente, que cuida de seus pupilos como se fossem seus filhotes, os
protegendo dos predadores, que as vezes somos nós mesmos quando recusamos a
captar ensinamentos que sejam válidos para nossas vidas.
Talvez esse seja o tão procurado segredo da vida, passar
adiante todo aprendizado.
Professor, me despeço do senhor pois, enquanto lhe escrevia
esta honrosa carta, os anos passavam e eu me tornava um homem. Homem este que o
senhor deu um sentido na vida. Espero que, onde quer que estejas lembre de mim,
pois eu nunca me esqueci de você, e garanto que muitos outros também não.
Depois de tanto tempo tive a coragem de fazer com o senhor
uma coisa que talvez deveria ter feito há anos, mas a maturidade me impediu,
que era dizer que mesmo avaliando, um dia o avaliador é avaliado e em seu caso
tudo isso se resume ao meu simples, mas honesto, obrigado.
- Pseudo J.I.E