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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Crônica

Caro professor,

Embora tu não percebas, eu o observo há muito tempo. Não estou me referindo a amor, ou algo do tipo, prefiro admirar sua existência, e ressaltar sua grande paciência, frente a ignorância nua e crua.
As vezes não sei o que faço aqui, parece até que algo me arrasta pra cá, para baixo de sua asa. Asa essa que em minha imaginação é de uma águia que, de qualquer parte da sala, nos observa e avalia.
Fico curioso para saber qual sua avaliação da minha pessoa. Não por querer saber o que pensam de mim, e nem aguardando a aprovação de ninguém, mas pelo senhor ser o meu referencial, minha base de apoio, pois além de ser órfão de pai, tenho apenas 14 anos.
As semelhanças entre vocês são nítidas relacionadas ao olhar, ao cuidado e até mesmo aos limites, porém a ignorância de conhecimento tomava conta daquele homem, que por vezes, cansado da lida, não motivava o aprendizado, e morreu em um leito de hospital, sem ter a clareza desse significado na vida. Sua tamanha ignorância, não demonstrava o seu enorme coração que, de tanto bater para construir o meu futuro e da minha família, um dia parou. Mas não estou aqui para me fazer de coitado, e muito menos te deixar triste com meus problemas, pois o senhor já tens os seus, domar pequenas feras humanas, que não vem prontas para receber informação e conteúdo, pois mesmo que muitos livros digam, eu não acredito que chegamos pensantes na escola, somos treinados e preparados para isso.
Incrivelmente professor, poucos percebem a tempo o quão importante e significativo são seus ensinamentos, e por qual razão constantemente coloca a prova nossos conhecimentos. Penso que talvez pelo fato que professores passam as vezes, mais tempo conosco que nossos pais e pessoas próximas. Eles não imaginam o que estão perdendo.
Eles foram cegados pelo fantasma da preguiça ignorante, que apesar de um nome inventado pela minha mente fértil, faz com que o portador pare no tempo e não absorva nada de bom do que foi ensinado.
Meu pai dizia que eu era um jovem observador. Mesmo ainda criança tirando conclusões de assuntos tão adultos, porém sem perder a pitadinha de imaginação.
Mas eu te pergunto caro professor, e quando eu crescer? O que vai acontecer? Tenho medo de não ser mais o mesmo, de não pensar como penso agora. Já ouvi falar que adultos são vazios e cheios de traumas. Espero ser a exceção.
Na verdade, quando crescer quero ser como o senhor. Uma águia em forma de gente, que cuida de seus pupilos como se fossem seus filhotes, os protegendo dos predadores, que as vezes somos nós mesmos quando recusamos a captar ensinamentos que sejam válidos para nossas vidas.
Talvez esse seja o tão procurado segredo da vida, passar adiante todo aprendizado.
Professor, me despeço do senhor pois, enquanto lhe escrevia esta honrosa carta, os anos passavam e eu me tornava um homem. Homem este que o senhor deu um sentido na vida. Espero que, onde quer que estejas lembre de mim, pois eu nunca me esqueci de você, e garanto que muitos outros também não.
Depois de tanto tempo tive a coragem de fazer com o senhor uma coisa que talvez deveria ter feito há anos, mas a maturidade me impediu, que era dizer que mesmo avaliando, um dia o avaliador é avaliado e em seu caso tudo isso se resume ao meu simples, mas honesto, obrigado.



 - Pseudo J.I.E

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